quarta-feira, 23 de julho de 2008

meu ladrão é meu melhor amigo.

Muita gente aqui me pergunta se o Brasil é perigoso. Minha resposta mais comum é: depende da sua sorte. Digo isso mesmo se a pessoa vai ao Rio de Janeiro ou a São Paulo, afinal, eu morei quase 5 anos na capital paulista e fui assaltado uma única vez... e na verdade, nem foi bem um assalto, foi mais pra um empréstimo amigável de dois reais.

Para aqueles que nunca me ouviram contando essa história, aqui vai:

Estava eu saindo d'A Lôca um domingo qualquer, bêbado, sem tostão pra pegar um taxi, as 5 da manhã. Decidi ir a pé, desci a Rua Frei Caneca, virei ali pra pegar o último quarteirão da Augusta e resolvi comprar um chocolate e uma Coca-Cola no posto que está na esquina dessa rua, com meu atalho do perigo, a Caio Prado. Eu mesmo sabendo que era cheio de árvores, escuro e com 80% de chance de ser roubado, fui por ali mesmo, porque era o caminho mais perto, o álcool e a preguiça batendo.
Fui comendo e sem abrir a lata de refri, no meio do quarteirão, entre a Augusta e a Consolação, sinto alguém segurando meu pulso. "Corre não, senão o cara que tá atrás vai te pegar". Olhei pra trás, tinha um moleque. "Não vou correr, véio, pode me soltar aê" (claro, tem que usar o mesmo linguajar). Ele tirou a mão de mim. "Que que cê tem aí? Abre a carteira". "Pô, véio, só tenho dois reais". Me tirou os dois reais. "E esse dólar aí?". Levou a nota americana também. "É o que eu tenho". "E no outro bolso?". Meu celular estava na assistência técnica e eu com um emprestado. "Pô, esse telefone nem é meu". "Tudo bem, a gente nem rouba celular". "Valeu!". Nisso, num rompante de amizade, o rapaz me diz: "Ei, tu é mó gente fina, véio. Dá um abraço aí". "Oi?". "Pô, tu não vai me dá um abraço?". Eu fiz o gesto carinhoso que ele me pediu. "Quer o dólar de volta?" "Não, valeu, quer a Coca-Cola pra vocês?". "Não, não... falou, véio. Fica com Deus aí, té mais!". E foi embora. Cheguei rindo na minha casa.

Nunca um roubo poderia ter feito minha noite acabar tão agradavelmente.

Um comentário:

Anônimo disse...

em 23 anos e meio de são paulo fui assaltada uma vez só também. mas não foi tão agradável como essa sua experiência.