quinta-feira, 15 de abril de 2010

por um cinema jovem.

(Texto originalmente publicado no blog Ilustrada no Cinema)

O público jovem/adolescente foi essencial para a guinada que o cinema teve nos anos 1970. Filmes como “Tubarão” (1975) e “Star Wars” (1977) formataram aquele que é o padrão até hoje. A obra que está sendo projetada na tela é apenas parte de um esquema maior, de uma indústria. Gostou do filme? Então compre os derivados _o bonequinho, o brinquedo, o caderno etc._, e vá não apenas uma, mas duas, três vezes ao cinema, para rever o filme. E assim nasceu o blockbuster. Se foi bom negócio ou não, a história é outra.

Aqui no Brasil, a lógica funcionou de forma parecida, mas obviamente em outra escala e em outro contexto _pornochanchadas, Trapalhões e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” foram os nossos blockbusters.

A visão de produtos/franquias para jovens guiou, por exemplo, o cinema com os nomes centrais da jovem guarda, nos anos 60. Mais tarde, filmes como “Menino do Rio” (1982), de Antônio Calmon, já estavam em sintonia com o boom do rock brasileiro, como bem notou o jornalista Ricardo Alexandre no livro “Dias de Luta: o Rock e o Brasil dos Anos 80”. Eram os tempos do primeiro Rock in Rio, de “Bete Balanço” (1984), enfim, um momento em que a juventude teve voz _e se mostrou um voraz público consumidor.

Com belas exceções aqui e ali (Glauber e Sganzerla começaram bem novos), no entanto, um cinema jovem e levado adiante por jovens, não chegou a se consolidar por aqui _e não me refiro apenas a filmes que retratam adolescentes, mas sim obras vibrantes, com um olhar não viciado, disposto a errar, disposto a ousadias.

Por isso, “Os Famosos e os Duendes da Morte”, de Esmir Filho, deve ser visto com toda a atenção. É até covardia que tenha estreado no mesmo final de semana que “Chico Xavier” _fui ver “Os Famosos...” na sessão da meia-noite do último sábado no Reserva Cultural e tinha meia dúzia de gatos pingados por ali.

Esmir nos mostra uma parte do Brasil que o Brasil raramente vê nas telas. É uma história que acontece no Sul do país, mas poderia ser num vilarejo da Suécia, Dinamarca, Alemanha. Por que tão poucos retratos dessa parcela de realidade? Talvez justamente porque não é uma história com elementos “locais” que os estrangeiros esperam do Brasil. Produtores e roteiristas parecem pensar “pra que vender geladeira pra um esquimó?”.

“Os Famosos...” mostra com precisão uma parcela específica da juventude brasileira. Mesmo isolados geograficamente, os personagens conhecem o que acontece ao redor do mundo. Para nós, isso é mais visível na música pop. Me lembrei na hora dos rapazes da banda Vanguart, de Cuiabá (MT). Ou da Mallu Magalhães, aqui de SP. Um pessoal novo, mas com influências fortes de Bob Dylan, com conhecimento já enciclopédico de música popular.

No dia seguinte à sessão do filme, fui ao parque Ibirapuera, no MAM, ver o último dia da exposição sobre o Gordon Matta-Clark. Estava chovendo forte, e uma multidão de adolescentes entediados estava espremida embaixo da marquise. Numa rodinha, uma garota coloca no chão seu celular para mostrar um vídeo _de algo comprometedor ou engraçado sobre alguém, a julgar pelo interesse de todas elas. É uma realidade que “Os Famosos e os Duendes da Morte” soube captar tão exemplarmente.

Escrito por Bruno Yutaka Saito às 11h03 PM

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